Os EUA são encarregados de refazer o mundo?

Michael McFaul
O embaixador americano Michael McFaul, homem de Obama em Moscou, que acabou de assumir o cargo, ganhou uma grosseira recepção. E não é de se espantar.

Em 1992, McFaul era representante na Rússia do Instituto Nacional Democrático, uma agência financiada pelo governo americano cuja missão é promover a democracia no exterior.

O instituto esteve envolvido em revoluções coloridas ou laranjas como as que derrubaram regimes na Sérvia, Ucrânia, Quirguistão, Geórgia e Líbano. O projeto fracassou na Bielorrússia.

O instituto é uma de várias agências, datando da década de 80, que foram estabelecidas para derrubar regimes comunistas. Com o fim da Guerra Fria, no entanto, essas agências foram desativadas, mas depois foram reativadas para servir como uma espécie de Comintern americano.

Enquanto que o Comintern de Lênin buscou instigar revoluções comunistas pelo ocidente e seus impérios, os Estados Unidos do pós-Guerra Fria decidiram promover revoluções democráticas para refazer o mundo à imagem dos EUA do século XX.

Em 2002, McFoul escreveu o livro: Russia’s Unfinished Revolution (A Revoluão Inacabada da Rússia).
Os homens de Vladimir Putin não estão sem razão ao perguntar se ele foi enviado a Moscou para terminar essa revolução. Putin já acusou Hillary Clinton de ter mandado o sinal para o começo das manifestações de rua contra as eleições de dezembro na Rússia.

Também não é surpresa que o grupo de Putin esteja desconfiado de McFaul, que piorou ainda mais a sua situação ao se encontrar com dissidentes anti-Putin um dia após ter apresentado suas credenciais. 

McFaul alega que isso é parte do seu “compromisso multilateral” com a sociedade russa. Antes de ir para Moscou, ele disse ao programa de rádio “Morning Edition” da estação NPR: “Não vamos nos meter na questão de ditar um caminho (da Rússia para a democracia). ... Vamos apenas apoiar o que chamamos de ‘valores universais’: não valores americanos, valores ocidentais, mas valores universais”.

Mas o que, exatamente, são “valores universais”?

E quem somos nós para impormos isso a outras nações? Será que Deus nos encarregou dessa missão? Quem nós, americanos, pensamos que somos?

Afinal, nós nem mesmo estamos de acordo sobre o que é moral ou imoral, bom ou ruim. Aliás, nossas profundas discordâncias a respeito do que é moral e o que não é são a raiz das guerras culturais que estão destruindo os EUA.

Nos EUA, as mulheres possuem o direito constitucional ao aborto. Milhões de mulheres usufruíram desse direito desde a decisão da Suprema Corte de 1973, que legalizou o aborto (caso Roe v. Wade). Ainda assim, tradicionalistas de muitas fés (católicos, protestantes, muçulmanos, ortodoxos e judeus) rejeitam a ideia de que isso seja um direito, e o enxergam como uma abominação.

Os homossexuais possuem o direito de coabitar, formar uniões civis e se casarem?

Em alguns estados americanos, sim; em outros, não. Mas tente impor esses valores em nações do mundo islâmico e do terceiro mundo, onde o homossexualismo é considerado um escândalo moral ou mesmo crime capital, e nossos embaixadores estarão sob ameaça física.

Será que McFaul acredita que a democracia é um sistema de governo universalmente superior? No entanto, os fundadores dos EUA detestavam a democracia de um homem, um voto. A democracia não é nem mencionada na Constituição, na Declaração de Direitos ou em “O Federalista”.

O autor da Declaração da Independência, Thomas Jefferson, acreditava que a sociedade deveria ser governada por uma “aristocracia natural” de “virtude e talento”.

Se a promoção da democracia é uma das missões dos nossos diplomatas, vamos ter que derrubar as monarquias do Marrocos, da Jordânia, do Barein e da Arábia Saudita?

Quando observamos a maneira como a democracia colocou no poder a Irmandade Islâmica e os salafistas no Egito, o Hamas em Gaza e o Hezbollah no Líbano, será que faz sentido insistir que ela seja abraçada por nações onde as populações são comodamente antiamericanas?

Qual é a posição universalmente certa sobre a pena capital? A posição conservadora de Rick Perry no Texas ou a posição esquerdista de Andrew Cuomo em Nova Iorque?

Nos Estados Unidos, todas as religiões (santeria, wicca, islã, cristianismo) devem ser tratadas igualmente, e todas devem ser mantidas fora das praças e escolas públicas. No mundo islâmico, que engloba um quinto da humanidade, o islã é a única verdadeira fé. As religiões rivais possuem poucos ou nenhum direito.

Iremos forçar o mundo islâmico a tratar todas as religiões de modo igual?

Nós valorizamos a diversidade religiosa, racial e étnica. Os chineses, que perseguem uigures, tibetanos, cristãos e praticantes de Falun Dafa, detestam essa diversidade e temem que ela destrua o seu país.
Nós acreditamos na liberdade de expressão e de imprensa.

Na França, no entanto, se você negar que os turcos cometeram genocídio contra os armênios em 1915, você é culpado de um crime, enquanto que na Turquia, se você afirmar que os turcos cometeram genocídio, você terá cometido um crime. Devem os diplomatas americanos lutar pela revogação de ambas as leis? Ou será que devemos cuidar da nossa própria vida?

Se os EUA desejam guiar o mundo, que o façamos pelo exemplo, como já fizemos no passado, e não intimidando todas as nações do planeta a adotar o jeito americano, que agora parece não estar funcionando nem mesmo para os americanos. 

McFaul deve se ater aos seus afazeres diplomáticos.

Jefferson disse bem, “Não pretendemos nos intrometer nos assuntos internos de qualquer país”.
fonte: Pat Buchanan in www.wnd.com

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